Operar eventos geopolíticos: o desafio e a oportunidade

Israel, Irão e os cenários que agitam os mercados globais

Saiba como aperfeiçoar a estratégia em eventos de risco e aprenda a construir cenários operacionais com base nas informações já disponíveis.

Eventos geopolíticos: o que está por trás dos preços e como preparar a sua estratégia

Qualquer evento de risco tem um impacto direto nos mercados financeiros, podendo aumentar ou reduzir a volatilidade de forma abrupta ou gradual — e, com isso, surgem oportunidades significativas. Cada evento geopolítico relevante é interpretado como um “tema de mercado”, e os diferentes ativos financeiros e intervenientes reagem com base nas probabilidades de concretização dos cenários possíveis. Antes de se delinear uma estratégia de investimento ou de gestão de risco perante um evento desta natureza, é essencial compreender o contexto macroeconómico e geopolítico e identificar os pontos que, de facto, têm potencial para influenciar os preços.

Neste Macro Journal, o foco recai sobre a conjuntura atual das relações entre Israel, o Irão e os Estados Unidos da América. Sem entrar em detalhes históricos facilmente consultáveis em fontes como livros académicos ou outros meios, centramos a atenção no que realmente está a influenciar os mercados neste momento.

Dinâmica regional: A tensão desenvolve-se num cenário de reconfiguração geopolítica no Médio Oriente. Países do Conselho de Cooperação do Golfo, como a Arábia Saudita, procuram normalizar relações com o Irão — uma peça-chave para os seus planos de diversificação económica. Uma eventual intervenção militar norte-americana num conflito regional mais alargado poderia dificultar esses esforços de reconciliação. O Irão já declarou que responderá ao envolvimento dos EUA, levantando a possibilidade de ataques a bases militares americanas espalhadas pela região.

Interesses de Israel: O programa nuclear iraniano é visto por Israel como uma ameaça existencial. As ações militares têm como objetivo neutralizar ou limitar a capacidade do Irão de desenvolver armamento nuclear, podendo desencadear uma cadeia de ataques e contra-ataques. A grande incógnita está na dimensão e na escala da resposta iraniana, bem como na probabilidade de o conflito se estender a outros países da região.

Posição dos EUA: Os Estados Unidos continuam empenhados em proteger os seus interesses geo-comerciais, procurando, em simultâneo, reduzir a sua presença militar no Médio Oriente. Qualquer envolvimento direto num novo conflito comprometeria esse equilíbrio estratégico.

Infra-estrutura nuclear do Irão: Os recentes ataques israelitas a infra-estruturas nucleares e sistemas de defesa iranianos aumentam o risco de interrupções no fornecimento global de petróleo, especialmente se as instalações de enriquecimento de urânio continuarem operacionais — um dos principais entraves às negociações diplomáticas com os EUA.

Ouro negro:


O Irão é um dos grandes players no mercado mundial de petróleo, com uma produção de cerca de 3,4 milhões de barris por dia, dos quais cerca de metade é exportada, sobretudo para a China, que se tem mantido como principal cliente, ajudando o país a contornar o impacto das sanções internacionais.

Estreito de Ormuz: o ponto crítico


O Estreito de Ormuz é um dos mais importantes corredores marítimos do mundo, responsável por cerca de 20% do tráfego global de petróleo e gás natural liquefeito. O Irão encara a possibilidade de encerrar o estreito como a sua “última alavanca estratégica” — uma medida extrema, reservada apenas para cenários de conflito directo. Um bloqueio completo poderá interromper o fornecimento de até 21 milhões de barris por dia durante dois meses, com projecções do Brent a atingir os 124 USD por barril no 3.º trimestre de 2025, e preços ainda elevados no final de 2026.

Subestimação do Risco: Atualmente, o preço do Brent encontra-se longe de refletir um cenário de encerramento do Estreito de Ormuz, o que sugere uma clara subavaliação por parte dos investidores quanto ao risco extremo.

Custos potenciais para o Irão: Apesar de declarações recentes da Guarda Revolucionária Iraniana reforçarem a sua capacidade de bloquear o Estreito, o Irão corre o risco de sofrer perdas significativas em activos militares, tal como se verificou durante a Operação Praying Mantis (Louva-a-Deus), em 1988. Segundo estimativas baseadas em dados de 2018, a reabertura do estreito poderia levar entre várias semanas e dois meses, dependendo da natureza do bloqueio e da resposta internacional.

Como mapear eventos de risco e ganhar vantagem em cenários geopolíticos

Ao analisar um tema de risco com impacto potencial nos mercados financeiros, o foco deve estar em compreender com precisão os pontos sensíveis e o que está efetivamente a acontecer. Em contextos de natureza geopolítica, o mais importante é eliminar o ruído histórico e os enviesamentos informativos, frequentemente presentes em meios não especializados. Quanto mais objetiva for a postura do investidor ou do trader, maior será a sua capacidade de filtrar informação com valor real para o processo de tomada de decisão.

No curto prazo, o objetivo de qualquer trader ou investidor é perceber se a situação tenderá a escalar, pacificar ou permanecer. Para ajudar nesta leitura, um mapa mental baseado numa curva de distribuição probabilística pode tornar-se uma ferramenta poderosa para compreender como o centro de gravidade das probabilidades se desloca em tempo real, à medida que surgem novas informações e os mercados reagem.

 

Este planeamento é essencial, pois o papel do trader/investidor é tomar decisões fundamentadas. Para isso, é crucial eliminar o ruído proveniente de fontes não especializadas ou de redes sociais no momento de procurar novas informações. Antes de iniciar essa pesquisa, o passo-chave é ter clareza sobre o que se procura, dentro do âmbito dos cenários de risco — e recorrer ao conceito de probabilidade, assente em três possíveis desfechos, pode representar uma vantagem competitiva determinante.

No caso do cenário Israel-Irão, o mapeamento pode ser feito através da imprensa especializada, classificando cada nova informação em momentos distintos (dica: utilize o Activerso/ActivDriver ou o Terminal da Macro Trader):

Com um mapa probabilístico bem estruturado e aplicando-o com base nas novas informações provenientes da imprensa especializada, a leitura torna-se clara e directa: o cenário está a escalar rapidamente.

Com este mapa mental, torna-se possível compreender de que forma as probabilidades associadas aos três cenários principais podem alterar-se constantemente, à medida que surgem novas informações em tempo real.

Para este contexto geopolítico — e com base em acontecimentos passados de conflito entre os dois países, é possível segmentar o desenrolar da situação da seguinte forma:

Escalada das Ações Militares: Qualquer ataque direto à infra-estrutura petrolífera ou nuclear do Irão, ou uma escalada regional de maior amplitude.

Diplomacia: A evolução ou colapso das negociações em torno do acordo nuclear entre os Estados Unidos, Israel e o Irão.

Envolvimento dos EUA: O grau de participação militar norte-americana na região e a possibilidade de o Irão vir a atacar bases dos EUA.

Oferta e Procura Global: A evolução da procura global de petróleo e a capacidade de outras fontes de produção — como a capacidade excedentária da Arábia Saudita ou o petróleo de xisto dos EUA — para compensar eventuais interrupções no fornecimento ou perturbações logísticas na região.

Ativos que se destacam em tempos de caos: como identificar?

Eventos geopolíticos, como o atual confronto entre Israel e o Irão, envolvem ativos que inevitavelmente reagem a qualquer novidade ou informação relevante. A melhor abordagem é recorrer a eventos recentes com ligação directa ao cenário actual, de modo a identificar os ativos com maior potencial de movimentação.

Antes de seleccionar os activos para operar e delinear cenários operacionais, é fundamental compreender a reacção dos mercados com base em dois gatilhos centrais:

“Risk-On” e “Risk-Off” em cenários geopolíticos

Nos mercados financeiros, os termos risk-on e risk-off  associam o comportamento dos preços ao nível de apetite pelo risco por parte dos investidores. 

Outra classe que quase sempre reage fortemente a eventos geopolíticos é o mercado accionista. As grandes oportunidades tendem a emergir nos principais mercados globais, com destaque para os EUA — nomeadamente o S&P 500 e o Nasdaq. O fluxo de ativos de risco passa quase sempre pelo mercado de ações, devido à preferência dos investidores por este tipo de exposição.

Na recente escalada entre Israel e o Irão, a 13 de Junho de 2025, conforme analisado anteriormente nos “momentos” do evento de risco, o S&P 500 e o Nasdaq geraram oportunidades relevantes no contexto de um cenário tipicamente risk-off.

Anderson Alves

Conclusão

As sugestões abaixo não estão necessariamente ligadas ao universo dos investimentos. O propósito é recomendar livros que ofereçam insights valiosos para complementar o conhecimento sobre mercados.

The Hour Between Dog and Wolf

Por John Coates

 Este livro é um verdadeiro choque de realidade para quem acha que as decisões de trading são puramente racionais.
John Coates, ex-trader e neurocientista, explica como, em momentos de alta tensão — como num confronto entre Israel e Irão —, o corpo reage antes do cérebro processar o risco. Cortisol, batimento acelerado; tudo isso altera a percepção de risco e pode sabotar (ou potenciar) o seu desempenho.

Ele explica como:

  • O stress e a euforia distorcem a percepção das probabilidades;
  • Decisões boas ou más estão ligadas a respostas fisiológicas, e não apenas mentais;
  • O trader que não entende o próprio corpo perde vantagem em situações extremas.

Os derivados financeiros são instrumentos complexos e apresentam um alto risco de perda rápida de capital devido à alavancagem. 74% das contas de investidores de retalho perdem dinheiro quando negociam derivados connosco. Deve considerar se entende como os derivados funcionam e se pode correr esse risco. A ActivTrades está presente em Portugal e é autorizada e regulada no país pela CMVM (Comissão do Mercado de Valores Mobiliários). Este conteúdo não é destinado ao público residente no Brasil.